Nasce uma estrela no país das maravilhas



Cheio de espinhas e um corpo esquelético,
O rapazinho sai da faculdade lépido.
Se achando o bom da boca, foi botando banca
De doutor, de sua excelência, pois assim manda
O figurino dos finórios e outros patifes
Que, a rigor, na fraude apostam seus cacifes.

Saído da plebe ignara e rude, o velhaco
Trata de juntar-se a todos os tratantes,
Que vão, por serem farinha do mesmo saco,
Ajudá-lo a roubar negócios e negociantes,
Com as leis do cão, da selva e do mais forte
E assim estava lançada a sua boa sorte!

Mas grandes e ricos sabem se proteger
E o rapazinho vê nos humildes e pobres
A tal possibilidade de enriquecer.
“É agora ou nunca, que ganho uns bons cobres!”
Lança-se então candidato a deputado
Pelo Partido do Tudo Está Consumado!

Com conversa mole, bala pras criancinhas,
Colo pros menorzinhos e umas piscadinhas
Para as felizes mamãezinhas, foi eleito!
E como o seu negócio era muito dinheiro
Chegou fazendo rentáveis negociatas,
Burlando leis, falsificando notas e atas.

Em dois anos de mandato já tinha grana,
Carros, casas, apartamentos e mulher
Linda a seus pés, louca para ir pra sua cama.
O povo, reunido, deu-se por satisfeito:
“Um homem como esse pode o que quiser,
e já que ele quer, basta elegê-lo prefeito!”

Roubando tudo e mais um pouco, logo logo,
Com as esmolas que distribuía virou santo,
Governador, senador, depois, presidente.
Eu que, em saliva malaca, não me afogo,
Tenho contado a verdade por todo canto,
E ouça o que escuto: “ele é como a gente!”


O Guardador de Vacas